A NORMALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA:
POR QUE AS PESSOAS COMPARTILHAM TRAGÉDIAS EM VEZ DE AJUDAR?
O impacto psicológico e social do compartilhamento de imagens violentas nas redes sociais
Em
tempos de redes sociais, um fenômeno preocupante tem se intensificado: a
exposição e compartilhamento de imagens trágicas, como acidentes,
agressões e mortes, sem qualquer sensibilidade. O que antes era limitado
a execuções públicas e punições exibidas em praças, hoje é amplificado
para um público global através de cliques e compartilhamentos. Esse
comportamento levanta uma série de questões sobre nossa moralidade e
humanidade. Por que, diante de uma tragédia, muitas pessoas escolhem
filmar e compartilhar, em vez de prestar socorro? O que está por trás
desse comportamento que se alastra pelas redes?
A PSICOLOGIA E A SOCIOLOGIA POR TRÁS DO COMPORTAMENTO DE MASSA
Do
ponto de vista da psicologia social, o fenômeno de compartilhar
tragédias pode estar ligado ao efeito de manada. Esse termo descreve o
comportamento das pessoas que agem de acordo com o que a maioria está
fazendo, sem refletir criticamente sobre suas ações. Quando vemos vídeos
ou fotos de tragédias, a alta visibilidade nas redes nos faz pensar que
esse comportamento é aceitável ou até normal, levando mais pessoas a
fazerem o mesmo. Esse efeito diminui a sensação de responsabilidade
individual, criando uma falsa sensação de que "todos fazem isso".
Além
disso, a psicologia de grupo sugere que, em situações de choque, as
pessoas muitas vezes se tornam espectadoras, esperando que alguém mais
qualificado ou mais corajoso aja primeiro. Isso pode explicar por que,
diante de uma tragédia, em vez de agir para ajudar, as pessoas sacam
seus celulares: elas não se veem como protagonistas, mas como
observadoras passivas, seguindo o que a multidão faz.
PSICANÁLISE: O FASCÍNIO PELO HORROR
A
psicanálise oferece outra perspectiva, investigando o inconsciente
humano. De acordo com Freud, há uma dualidade em nossa psique entre os
impulsos de vida (Eros) e de morte (Thanatos). A violência, o sofrimento
e a morte são aspectos que nos atraem de forma inconsciente, devido ao
poder que essas imagens têm de evocar nossos medos mais primitivos.
Compartilhar imagens de tragédias pode ser, para algumas pessoas, uma
forma de lidar com esses medos internos, distanciando-se emocionalmente
ao observar a dor dos outros.
O voyeurismo psicológico também
pode ser um fator. O ser humano tem uma curiosidade inata sobre o
sofrimento alheio, e a tecnologia de hoje facilita essa exposição como
nunca antes. Antigamente, as execuções públicas serviam como uma espécie
de "espetáculo", e hoje, as redes sociais cumprem um papel similar ao
perpetuar imagens de violência.
NEUROCIÊNCIA: O IMPACTO DA EXPOSIÇÃO CONSTANTE À VIOLÊNCIA
A
neurociência nos mostra que, com a exposição repetida a cenas
violentas, nosso cérebro pode começar a se "dessensibilizar". Isso
significa que quanto mais vemos violência, menos impacto emocional ela
provoca. Essa dessensibilização pode criar uma falsa sensação de
normalidade, onde o sofrimento humano é visto como entretenimento.
O
sistema de recompensa do cérebro, que está ligado à dopamina, também
pode estar envolvido. Quando as pessoas compartilham algo chocante ou
viral, elas recebem curtidas, comentários e reações, o que ativa esse
sistema, reforçando a ação de compartilhar e perpetuando o ciclo.
DICAS PARA ROMPER ESSE CICLO DE NORMALIZAÇÃO
1.
Reflexão antes de compartilhar: Antes de repassar qualquer conteúdo
violento ou trágico, pergunte a si mesmo qual é o impacto disso. O que
você está buscando com essa ação? Será que está ajudando ou apenas
perpetuando o sofrimento?
2. Ajude ao invés de observar: Se
presenciar uma tragédia ou acidente, em vez de gravar ou tirar fotos,
procure ajudar. Seja prestando socorro direto, chamando as autoridades
ou oferecendo apoio moral.
3. Eduque seu círculo: Converse
com familiares e amigos sobre os impactos de compartilhar tragédias.
Muitas vezes, as pessoas compartilham sem pensar nas consequências
emocionais e sociais dessas ações.
4. Desconecte-se da
violência: Evite o consumo excessivo de conteúdos violentos, pois isso
pode alimentar a dessensibilização e a banalização da dor alheia.
5.
Busque ajuda profissional: Se você sente uma atração pelo
compartilhamento de conteúdos violentos, pode ser um sinal de que há
questões emocionais não resolvidas. A terapia, seja ela psicanalítica ou
psicológica, pode ajudar a entender e lidar com esses sentimentos.
POR QUE ISSO NÃO É NORMAL?
Apesar
da aparente aceitação social, não é normal compartilhar tragédias como
se fossem entretenimento. A violência e o sofrimento humano deveriam
evocar compaixão, empatia e o desejo de ajudar, não uma vontade de
acumular curtidas e visualizações. O fato de isso estar se tornando
comum é alarmante e deve nos levar a questionar a direção que nossa
sociedade está tomando. O respeito pela dignidade humana deve sempre
prevalecer sobre a vontade de obter popularidade nas redes sociais.
#ResponsabilidadeDigital
#NãoCompartilheViolência #EfeitoDeManada #EmpatiaDigital
#PsicologiaSocial #NeurociênciaDoComportamento #Psicanálise
#CompartilheConsciência
---
Fontes:
Freud, Sigmund. Beyond the Pleasure Principle. 1920.
Bandura, Albert. Social Learning Theory. 1977.
Seitz, Jonathan. "The Neuroscience of Empathy and Its Role in Human Connection." Neuroscience Today, 2020.
Zimbardo, Philip. The Lucifer Effect: Understanding How Good People Turn Evil. Random House, 2007.
✅✅✅✅✅

0 Comentários
Olá, Obrigada por visitar essa página, sinta-se a vontade para expressar sua opinião e deixar sugestões. Grata!